terça-feira, 6 de julho de 2010

O preço de viver mais

Com os avanços da medicina e o envelhecimento da população, o custo da saúde sobe acima da inflação

Arcar com os custos crescentes da saúde é um dos grandes desafios das sociedades desenvolvidas. O ritmo de expansão dos gastos com prevenção e tratamentos é maior que o da economia, e os preços dos serviços médicos avançam mais rápido do que a inflação.

Evidente há anos em países ricos, esse quadro começa a ficar exposto no Brasil. O custo médio de uma internação, para um plano de saúde, é da ordem de 6 100 reais. Há cinco anos, um atendimento similar ficava em torno de 4 000 reais.

Tratamentos tão diversos como artroscopia (cirurgia nas articulações), extração da vesícula e diagnósticos por imagem encareceram, nos últimos cinco anos, num ritmo que chega a ser o dobro do da inflação.

Nos Estados Unidos, essa escalada é observada há três décadas. No Brasil ainda existem poucas estatísticas a respeito. Um esforço nesse sentido partiu do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess), órgão criado por grandes operadoras do setor.

Desde 2007, a instituição analisa os custos dos serviços utilizados pelos 43 milhões de brasileiros que possuem seguro médico. Nos últimos três anos, essas despesas acumulam alta de 33,4%, para uma inflação de 15,4%. Apenas em 2009, houve alta de 12%,0 triplo da inflação geral medida pelo IPCA.

A primeira explicação para essa alta, dizem os especialistas, está na incorporação de novas tecnologias. Os avanços trouxeram exatidão a diagnósticos, criaram medicamentos mais eficientes e deram sobrevida a pacientes que até pouco tempo atrás estariam condenados.

Mas, ao contrário do que acontece em outros setores da economia, nos quais a tecnologia reduz custos, na medicina os novos tratamentos, além de ser mais caros, somam-se aos já existentes, em vez de substituí-los. É o caso do PET/CT, um dos exames mais precisos em diagnóstico por imagem lançados nos últimos anos, que associa a tomografia por emissão de pósitrons à tomografia computadorizada.

O procedimento custa ao redor de 5 000 reais. Ainda assim, seu uso não aposentou exames como a ressonância magnética e a própria tomografia computadorizada.

A segunda explicação para o encarecimento da saúde advém de uma notícia positiva, a longevidade – reflexo, em boa medida, do próprio avanço na medicina. Há duas décadas, sete em cada 100 brasileiros tinham idade superior a 60 anos.

Agora, são dez em 100. Isso é sinônimo de melhoria nos padrões de vida. Mas na velhice os gastos médicos disparam. Os idosos agendam quase o dobro de consultas e sofrem três vezes mais internações do que pessoas entre 19 e 23 anos. “Hoje, aqueles que têm de 20 a 30 anos arcam com parte das despesas relativas aos idosos.

Os mais velhos pagam menos pelo plano de saúde do que de fato custam para as operadoras”, afirma José Cechin, superintendente executivo do Iess e ex-ministro da Previdência.

Os brasileiros devem se preparar para gastar mais com saúde. Essa é a tendência. Segundo a recém-divulgada Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (POF), medicamentos e serviços médicos representaram 7,2% das despesas totais das famílias no ano passado, diante de um porcentual de 6,5% verificado seis anos antes. Ainda que a pressão pelo aumento das despesas seja incontornável há um consenso em torno da necessidade de aperfeiçoar a gestão e, assim, fazer mais com os mesmos reais.

O primeiro passo deve ser a contenção de desperdício. “É preciso administrar melhor o atendimento médico”, diz Carlos Alberto Suslik, coordenador do MBA executivo em gestão da saúde do lnsper. "Gasta-se muito com procedimentos questionáveis. É natural que o paciente só queira o mais avançado, mas nem sempre isso é o mais adequado para a sua doença.”

Apesar de pagarem caro pelos seus planos, os segurados não deveriam correr ao pronto-socorro e fazer uma bateria de exames ao primeiro sinal de cólica.

A utilização excessiva dos serviços torna o sistema caro para todos. Médicos e hospitais deveriam ser mais criteriosos antes de agendar procedimentos nem sempre necessários. Quanto às operadoras, elas precisam aprender a controlar os custos sem comprometer o atendimento que prestam. No futuro próximo, a qualidade do serviço médico dependerá do equilíbrio entre esses interesses com frequência conflitantes.

A vida depois dos 100

Atualmente, apenas uma em cada 6 000 pessoas chega aos 100 anos de idade. A ciência, contudo, tem dado passos decisivos para compreender o fenômeno da "longevidade excepcional". Um artigo publicado na versão on-line da revista Science, na última quinta-feira, representa um grande avanço na identificação dos mecanismos genéticos que ajudam certas pessoas a atingir essa idade avançada.

Liderados pelo geriatra Thomas Perls, pesquisadores da Universidade de Boston compararam os genes de 1 055 centenários com os de um grupo de 1 267 pessoas mais jovens. A equipe de Perls observou 150 variações genéticas comuns aos centenários – e muito pouco frequentes entre os demais. É a primeira vez que se identifica um grupo tão grande de características genéticas associadas a idade provecta.

A partir da descoberta, os pesquisadores desenvolveram um modelo estatístico inédito que permitiu predizer, com 77% de acurácia, a probabilidade de alguém ultrapassar a marca dos 100 anos.

A importância do estudo vai além de prever o tempo de vida sob o ponto de vista genético. "O grande impacto da descoberta está em contribuir para o melhor entendimento dos mecanismos associados à deflagração, ou não, das doenças típicas do envelhecimento", explica o geneticista Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica.

O trabalho identificou, tanto nos voluntários mais novos quanto nos mais velhos, um número semelhante de combinações genéticas que predispõem as doenças ligadas à idade – diabetes, hipertensão e Alzheimer, por exemplo. Intui-se, portanto, que os 150 marcadores genéticos comuns aos centenários ajudam a protegê-los contra essas doenças – ou ao menos a postergar o aparecimento delas.

Apesar da comprovação do importante papel dos genes no processo da longevidade excepcional, os pesquisadores da Universidade de Boston são os primeiros a alertar para a influência do estilo de vida na conquista dos anos a mais. Segundo uma das autoras do estudo, a professora de bioestatística Paola Sebastiani, a maioria dos centenários envolvidos no trabalho mantinha rotinas saudáveis.

Eles eram adeptos de uma dieta balanceada e não fumavam. “Em qualquer situação e idade, é sempre preciso ajudar a genética”, conclui o geriatra Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

fonte: http://www.pmeonline.com.br