No fim do mês,
quando o salário da estudante de contabilidade Renata Borges, de 20 anos, cai
na sua conta, parte do dinheiro já tem destino certo: a poupança. Rigorosamente
33% do que ela ganha como recepcionista na universidade em que estuda, em São
Paulo, é transferido para o cofrinho. A estudante mora com os pais e tem bolsa
na faculdade. “Acho que esse é um momento legal para juntar dinheiro, porque
ainda não temos muitas contas para pagar”, ela diz.
Renata não está
sozinha: um estudo feito nos Estados Unidos pelo banco Wells Fargo mostrou que a geração Y, formada
por pessoas que têm entre 18 e 31 anos, tem uma poupança em média 50%
maior do que a geração X tinha na mesma idade.
Os números fazem cair por terra a tese de que os jovens nascidos a partir
dos anos 1980 são especialmente consumistas (tese que, aliás, certamente foi
desenvolvida por alguém que nasceu bem antes disso). Uma outra pesquisa,
realizada pela Federação Americana do Consumidor (CFA), constatou que a proporção de pessoas dessa faixa etária que fazem planejamento
financeiro passou de 43% para 47%. “Apenas uma pequena parcela
poderia ser caracterizada como irresponsável”, diz Stephen Brobeck, diretor
executivo da CFA.
Nos Estados Unidos, a necessidade de fazer o pé de meia foi despertada
pela crise econômica
de 2008. “Os jovens foram expostos a uma série de choques econômicos drásticos
em um curto período, resultando em mais preocupação e aversão ao risco”, diz
Victor Ricciardi, professor de finanças do Goucher College, em Baltimore, e coeditor
do livro Investor Behavior: The Psychology of Financial Planning and Investing
(“Comportamento de investidor: A psicologia do planejamento financeiro e de
investimentos”, sem edição no Brasil). Em uma pesquisa do Bank of America
divulgada em abril, oito em cada dez jovens disseram que a recessão lhes
ensinou a importância de economizar para o futuro.
Por aqui,
o momento difícil da economia também já começa a assustar: a taxa de desemprego
chegou a 6,2% em março — pior índice desde 2011 —, e o rendimento médio dos
brasileiros caiu de R$ 2.200,85 para R$ 2.134,60 entre 2014 e 2015.
A dentista
Thamiris Peretta, 23 anos, tem optado por deixar 30% do salário na poupança e
resistido a qualquer outro tipo de investimento, tudo por medo da crise. “Mas
penso em colocar o dinheiro para girar no futuro, quando as coisas estiverem
mais calmas”, ela diz. “O mercado coloca muita pressão no jovem para que ele
compre a todo momento. Tem que ter um celular novo, uma calça nova, um carro
bom. Não dá para acompanhar.”
QUEM SABE SABE
Em 2014,
os brasileiros de 18 a 24 anos tiveram desempenho fraco no Indicador de
Educação Financeira (IndEF) da Serasa Experian. O grupo registrou queda na
pontuação de 5,9 para 5,8 em uma escala de 0 a 10 (a média nacional foi só um
pouco mais alta: 6). Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de
Educadores Financeiros (Abefin), diz que os jovens têm acesso a muita
informação na internet, mas sem uma estrutura organizada. “Precisa existir
método”, afirma o especialista.
Ele defende que o primeiro passo para guardar
dinheiro é parar e registrar para onde está indo cada centavo. Em
seguida, deve-se esquematizar objetivos de curto, médio e longo prazo. A
economia deve ser feita para cada uma dessas categorias de forma separada, ao mesmo tempo. Parece
difícil? Depois de pouco tempo vira hábito. Foi o que aconteceu com o
engenheiro Tiago Prata, 24 anos. Desde que foi efetivado, há um ano, o rapaz
tira o celular do bolso para anotar cada novo gasto. “O importante é ser
metódico”, ele diz. Tiago criou um sistema de “subcontas”, em que divide o
dinheiro em categorias como despesas recorrentes, futuras viagens, manutenção
do carro e até presentes para a família.
O terceiro
passo é criar um orçamento que priorize os objetivos estabelecidos. No caso de
objetivos de curto prazo, o mais recomendado é mesmo uma caderneta de poupança.
E, para os de longo prazo, é possível recorrer à previdência privada ou a
títulos do Tesouro Direto. Mas, independentemente da fórmula escolhida, o
importante, diz Domingos, é focar nas metas: “Ter objetivos é o grande antídoto
para gastar menos com produtos e serviços que não são importantes.”
Fonte: Jornal Contábil