Uruburetama fica a 115 km de Fortaleza, capital do Ceará. A cidade, cercada por serras, recebeu esse nome por causa da quantidade de urubus que sobrevoavam a caatinga para se alimentar de animais mortos. A economia local gira em torno do cultivo de banana, de uma cooperativa de castanha e da indústria de calçados.
Nos últimos três anos, o município, de 21 mil habitantes,
foi o destino de alguns dos prêmios mais importantes de educação financeira do
país. E o responsável pelo feito é o professor de português Fabiano Silva
Ferreira, 33.
Fabiano conquistou um prêmio da CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) e coordenou o trabalho de alunos que venceram dois outros
concursos da autarquia. Vídeos falavam sobre como guardar dinheiro para o
futuro, evitar gastos desnecessários e começar a investir.
Os estudantes desbancaram trabalhos de cidades maiores e que
ostentam indicadores socioeconômicos melhores.
Uruburetama é o 35º município do Ceará no Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal elaborado pelo IBGE em 2010. A cidade recebeu
a mesma nota de Ribeirão Branco, a de pior colocação em São Paulo.
Caçula de dez filhos, Fabiano foi o único da família a se
formar em uma universidade. Os pais são agricultores analfabetos, e a maioria
dos irmãos não concluiu o ensino médio. Para cursar a faculdade, ele contou com
a ajuda de uma associação italiana que arcava com parte da mensalidade.
ANOTAR NA CADERNETA
O desafio de se graduar só não foi maior do que o de ensinar
educação financeira na cidade. Em Uruburetama, ainda é comum comprar em
comércios e anotar os gastos em caderneta, diz.
"As pessoas não têm controle financeiro, elas ficam
altamente endividadas", diz.
"Mães que trabalham na fábrica de calçados, ganham um
salário mínimo e pagam R$ 500 de aluguel compram sapato de R$ 400 para o filho,
sendo que a pessoa tem que almoçar, jantar e comprar outras coisas para
sobrevivência", afirma.
Fabiano começou a falar de finanças aos alunos antes de
saber dos concursos da CVM. Tratava de temas como crédito, conta-corrente e
investimentos quando soube do prêmio. "Fiquei com medo de trabalhar um
tema que não domino. Estudei e essa experiência me fez crescer como
pessoa", afirma.