Apesar dos sinais de reação na
atividade econômica, os três anos de crise parecem ter deixado sequelas no
comportamento de compra das famílias paulistanas que seguem avessas à tomada de
crédito e estão buscando a recomposição de suas reservas financeiras, corroídas
ao longo do período de recessão. Isso é o que aponta a Pesquisa de Risco e
Intenção e Endividamento (PRIE), elaborada mensalmente pela FecomercioSP e
apresentada hoje.
Segundo os dados mais recentes, de
julho, o Índice de Intenção de Financiamento caiu 20% na comparação com junho,
passando de 17,5 para 14 pontos. Isso significa que apenas 6,5% dos paulistanos
têm intenção de contrair financiamento nos próximos três meses, a menor
proporção desde junho de 2012, início da série histórica. Em relação a julho de
2016, quando o indicador registrava 14,7 pontos, houve queda de 5,3%.
Por outro lado, o Índice de
Segurança de Crédito, que mede a capacidade de pagamento dos consumidores com
base na posse de reserva financeira, registrou elevação de 11,6% na comparação
mensal, atingindo 83,7 pontos no mês atual, ante os 75,1 pontos registrados em
junho – é 5,1% superior ao apurado em julho de 2016, quando o indicador marcava
79,7 pontos.
A segurança de crédito apresentou
maior alta (21,9%) entre os consumidores endividados, passando dos 56,3 pontos
em junho para 68,6 pontos em julho, e elevação de 9% na comparação com o mesmo
mês de 2016, quando o indicador registrava 62,9 pontos. Já entre os não
endividados, houve crescimento de 7,6% na comparação mensal, passando dos 92,9
pontos para 100 pontos em julho, e alta de 2,8% no contraponto anual, quando o
indicador marcava 97,2 pontos.
De acordo com a assessoria
econômica da FecomercioSP, os sinais de que a economia começa a voltar ao
normal no Brasil, depois de quase três anos de recessão e inflação, a pior
combinação possível, estão se confirmando. As famílias temem, porém, os efeitos
da nova crise política, que envolve os principais partidos e personagens do
País e o desemprego que segue em níveis elevados. Segundo a Entidade, há
evidente risco desse ambiente conturbado na política contaminar o cenário
econômico, que até o momento tem se mostrado surpreendentemente descolado do
mau humor político. Apesar de o cenário econômico não dar sinais de ruptura e
de a situação de segurança de crédito ou do mercado de crédito em
si ter se alterado muito, a Federação aponta que não dá para se esperar uma
recuperação no curto prazo.
Aplicações
Em julho, 58,8% dos aplicadores
tinham na poupança o principal destino dos seus recursos, leve queda de 0,6
ponto porcentual (p.p.) em relação aos 59,4% apurados em junho. Em julho de
2016, a proporção era de 62,9%. Os que aplicam em renda fixa alcançaram 21,1%,
leve alta de 0,3 p.p. em relação ao mês anterior e crescimento de 0,7 p.p em
relação aos 20,4% registrados em julho de 2016.
Segundo a FecomercioSP, será
preciso primeiro reduzir o endividamento e solidificar a retomada do emprego
para somente depois encorajar maciçamente as famílias e os bancos a voltar
ao mercado de
crédito, que é o grande alavancador das vendas, principalmente para setores
como o de bens duráveis e o segmento imobiliário.
Para a
Entidade, após alguns meses de retomada gradativa da intenção do consumidor em
voltar ao mercado de crédito e financiar parcela de suas compras,
maio, junho e julho inverteram essa direção. Mesmo com momentos de melhoria, a
Federação aponta que a tendência expressa eventualmente em dados de curto prazo
não tem vencido a tendência de longo prazo (mais de um ano), e o mercado de
crédito contabiliza uma paralisação neste período longo de crise econômica. Há
pequenos sinais, no entanto, de retomada em algumas linhas, mas a FecomercioSP
afirma que ainda é necessário que as situações econômica e política se
estabilizem e se consolidem, para acontecer a recuperação real do mercado de
crédito.
O mercado financeiro ainda está hostil para os tomadores
de dinheiro, com taxas e condições adversas, mas gradativamente vai se
ajustando. A projeção da FecomercioSP, até o aparecimento da nova crise
política, dava como provável a retomada do crescimento das carteiras de crédito
no Brasil, como de fato já ocorre em alguns segmentos (como o de automóveis).
Entretanto, a manutenção dessa projeção, segundo a Entidade, fica em compasso
de espera até que novas informações possam ratificar ou rever essa tendência.